O Xamanismo e as
Práticas Psicológicas

Conforme explica Léo Artese (1996), buscamos constantemente compreender a direção que nossa alma deseja seguir e como podemos alinhar essa trajetória à nossa personalidade. Em outras palavras, procuramos harmonizar nosso propósito de vida com nosso caminho pessoal. Cada indivíduo possui desejos, emoções e necessidades próprias, e é através dessa individualidade que cada um encontra sua rota única para trilhar na “Estrada da Vida”, dentro do tempo que lhe foi concedido.

Ao longo dessa jornada, deparamo-nos com desafios, relacionamentos, obstáculos e experiências familiares que podem influenciar e até mesmo desviar nossa personalidade do verdadeiro percurso que nossa alma traçou. Segundo Artese, quando essa desconexão acontece, sentimentos como tristeza, depressão, raiva e vazio interior se manifestam, levando-nos a expressões comuns como "vontade de desaparecer".

Nosso maior desafio é encontrar a trilha que ressoa com nossa essência, permitindo que nossa personalidade floresça. A prosperidade surge justamente desse alinhamento entre alma e identidade, pois nossa alma carrega consigo memórias do passado e compreende quais experiências são necessárias para o crescimento contínuo. Ela é a força motriz que impulsiona nosso destino.

Descobrir a missão de vida não é algo imposto ou criado com base em preocupações momentâneas, mas sim um processo profundo de autoconhecimento. Quando encontramos esse propósito genuíno, temos a certeza de que nossas metas estão verdadeiramente alinhadas com quem somos. Essa descoberta não apenas nos direciona, mas também unifica nossos interesses e nos impulsiona a crescer de maneira significativa.

A busca pelo autoconhecimento e pelo reconhecimento de nossos talentos e potenciais nos permite afirmar nosso propósito de vida, trazendo clareza e determinação para enfrentar os desafios com coragem. Ter consciência da própria missão é fundamental para tempos incertos, pois ela não é apenas um objetivo a ser alcançado, mas sim uma causa a ser vivida diariamente. Não realizamos nossa missão – nós a incorporamos e caminhamos com ela.

Essa descoberta não se trata de uma escolha externa, mas sim de uma revelação interior. Quando encontramos nosso propósito, passamos a agir de maneira alinhada com ele, compreendendo que essa missão é o motivo pelo qual existimos e estamos presentes neste momento. À medida que seguimos esse caminho com clareza, experimentamos um profundo contentamento, pois percebemos que cada experiência vivida contribui para o alinhamento com a essência de nossa alma.

Uma maneira poderosa de fortalecer essa conexão é escrever a missão de vida em um lugar visível e repeti-la diariamente, com energia e convicção, para que essas palavras ressoem em nosso ser e reforcem nosso compromisso com esse propósito.

A evolução da mente humana, os avanços terapêuticos e científicos, assim como os ensinamentos ancestrais, oferecem valiosas ferramentas para lidarmos com os desafios da alma. Vivemos um momento de "Ressacralização da Consciência", onde novas perspectivas nos auxiliam a restaurar nossa conexão com a natureza, prevenir crises ecológicas e melhorar nossa qualidade de vida.

Walsh destaca que, embora a abordagem xamânica tenha uma forte conexão com aspectos psicológicos, isso não significa que suas técnicas sejam apenas psicológicas. Os xamãs utilizam uma ampla gama de práticas, que vão desde curas espirituais até tratamentos físicos, como limpeza de ferimentos, massagens e o uso de ervas medicinais. No entanto, eles próprios atribuem seus poderes de cura à dimensão espiritual.

Ainda assim, grande parte da eficácia dessas práticas pode estar relacionada a fatores psicológicos. Assim como outros curadores, os xamãs empregam sugestão, rituais e crenças que ativam respostas internas poderosas, muitas vezes comparadas ao efeito placebo. Algumas dessas abordagens são semelhantes a técnicas psicoterapêuticas modernas.

Por essa razão, os xamãs são frequentemente considerados os primeiros psicoterapeutas da humanidade. Suas práticas envolvem uma interação intensa entre o curador e aquele que busca a cura, criando um espaço de confiança e conexão emocional. Durante esse processo, o xamã busca aliviar o sofrimento através de rituais simbólicos, palavras e gestos que promovem transformação.

Assim como ocorre na psicoterapia, esses rituais podem incluir familiares e membros da comunidade, fortalecendo o suporte emocional. Além disso, uma parte essencial do processo terapêutico envolve ajudar a pessoa a compreender e aceitar o sofrimento como parte da existência, encarando-o como uma oportunidade para crescimento pessoal.

Se analisarmos a psicoterapia moderna, perceberemos que muitos de seus métodos são, na verdade, adaptações e refinamentos de antigas práticas de cura psicológica utilizadas por xamãs ao longo da história. Muitas técnicas xamânicas, voltadas tanto para a cura física quanto para o equilíbrio emocional, podem ser interpretadas sob a ótica da psicologia ou da psicoterapia contemporânea.

(Inspirado pela visão de Fany Matricciani)