Definições do Xamanismo
Desde o início do século XX, estudiosos da etnologia passaram a empregar, de forma intercambiável, termos como xamã, feiticeiro, mago e curandeiro para descrever indivíduos dotados de um prestígio espiritual e mágico-religioso dentro de diversas sociedades tradicionais. Com o tempo, essa nomenclatura foi estendida para analisar elementos ancestrais presentes nas religiões de civilizações mais estruturadas, como as tradições espirituais da Índia, Irã, China, Germânia e até da Babilônia.
O xamanismo pode ser compreendido como um sistema ancestral de crenças que possibilita a conexão com dimensões sutis da realidade, estados alterados de consciência e forças espirituais, visando adquirir conhecimento, equilíbrio, poder e bem-estar. O próprio termo “xamã” tem origem na Sibéria, sendo derivado do vocábulo tungús "saman", que, por sua vez, guarda relação com o termo sânscrito "sramana", significando "aquele inspirado pelos espíritos".
A trajetória de um xamã não se dá por autoproclamação. Ele é escolhido para essa missão e passa por um processo de aprendizado e iniciação dentro de sua comunidade, sendo reconhecido como tal após um rigoroso treinamento. Seu preparo inclui ensinamentos transmitidos por instrutores experientes, que concedem uma espécie de autorização espiritual para que ele possa conduzir cerimônias e práticas sagradas. No campo da antropologia, o termo xamã passou a designar líderes espirituais de diversas culturas tradicionais, anteriormente conhecidos por diferentes nomes, como pajés, curandeiros, sacerdotes, videntes, conselheiros, terapeutas e contadores de histórias.
Diferenciando-se de outras práticas mágicas, o xamanismo se destaca por certas habilidades específicas, como o "domínio do fogo" e a experiência do "voo da alma", aspectos considerados centrais dentro dessa tradição. Suas raízes remontam a períodos muito antigos, levando alguns antropólogos a especularem que suas origens estão tão distantes quanto o surgimento da própria consciência humana. Registros indicam que práticas xamânicas já ocorriam entre 40.000 e 50.000 anos atrás, no período Paleolítico.
O xamanismo tem sido amplamente estudado em diferentes regiões do mundo, incluindo as Américas, África, Sibéria, Indonésia, Malásia, Austrália, Patagônia, Tibet, além de diversos povos indígenas e tradicionais. No Tibet, por exemplo, a tradição xamânica Bon se funde com o Budismo Tibetano. Além disso, muitos de seus princípios podem ser encontrados nas grandes religiões, pois suas práticas influenciaram tradições espirituais que se desenvolveram ao longo do tempo.
O xamanismo é considerado uma jornada de expansão da consciência, um legado universal que transcende barreiras culturais, geográficas e filosóficas. Sua base fundamental é o entendimento de que tudo está interligado e de que fazemos parte de uma única família universal. O praticante aprende a reconhecer e a vivenciar a presença do Espírito Essencial dentro de si, na natureza e em todos os seres vivos.
Embora o xamanismo possua uma forte conexão espiritual, ele não se estrutura como as religiões convencionais, que seguem escrituras sagradas e figuras centrais, como Cristo no Cristianismo, Buda no Budismo ou Maomé no Islamismo. Em vez disso, ele se molda conforme as crenças e tradições locais, inserindo-se dentro do contexto espiritual e religioso de cada povo. Com o passar do tempo, muitas religiões incorporaram elementos xamânicos ou, em algumas culturas, marginalizaram suas práticas. Seus rituais, mitologias e entidades variam de acordo com a tribo, a geografia e a tradição espiritual de cada região.
O xamã ocupa uma posição central dentro de sua comunidade, atuando como um elo entre o mundo espiritual, a natureza e as pessoas ao seu redor. Diferente de santos, avatares ou profetas, sua função está ligada à mediação e ao equilíbrio entre essas dimensões, utilizando seu conhecimento e habilidades para guiar, curar e aconselhar.




(Inspirado pela visão de Fany Matricciani)